"agora vai"

 Mais um daqueles dias em que, numa caminhada, me vem o pensamento de voltar a escrever.

Me vêm diversos e variados pensamentos, frases, palavras, sensações que podem ser bem descritas e tornadas imagens na mente do leitor imaginado. 

Eu chego em casa, depois de duvidosamente passar na padaria e comprar um croissant-brioche. Abro o papel, adoro a sensação do papel, toco delicadamente com meus dedos esse saco de papel e me lembro da sensação que já senti lendo esse tipo de descrição em livros e vendo filmes com uma estética lenta, onde os acontecimentos são degustados lentamente e os movimentos acontecem na maior calma do mundo.

As cores nessas cenas são amarronzadas, como são as cores desta estação. Existe uma oscilação da luz, que vai e vem, aumenta e diminui, da mesma forma como oscila meu desejo de estar na luz ou na penumbra. Logo eu, que sou tão solar, me deixo levar pela oscilação das luzes, assim como me deixo levar em tantas outras coisas na minha vida. Os moods...

O mesmo tem acontecido com meu sono. Eu planejo acordar às 5h30 neste período em que o sol nasce às 7h45. Tento e volto a falhar miseravelmente. Na minha sub-consciência sonolenta, não chego a raciocinar quando toca o despertador, apenas sigo embalada nos sonhos, nos cobertores e no meu momento máximo de descanso do loop infinito que tenho vivido. 

E parece que cada dia o sono vai me levando mais em direção ao seu mundo e o tempo de ficar acordada vai diminuindo... Assim, a vida também vai diminuindo seu ritmo e se parecendo mais ainda com as cenas dos filmes onde eu aprecio a sensação de tocar os sacos de papel, as porcelanas em cima das mesas de madeira e as caminhadas na chuva.

Começo a me perguntar se devo, simplesmente, me entregar à lentidão. Antes de sair do café, há 40 minutos, fui guardar as coisas na mochila e todos os meus objetos caíram no chão, um por um, parecendo que se entregaram à mesma lentidão que eu. 

Recuso-me a andar depressa e a fazer mais de uma atividade ao mesmo tempo. Sinto como se devesse aproveitar cada atividade, mas ao mesmo tempo, sei que estou na minha bomba-relógio particular onde não há tempo para tudo e para cada coisa. Escolhas deverão ser feitas, e se eu não pensar sobre elas, o acaso vai escolher por mim. 

Será que isso marca um novo momento na minha escrita, será que isso marca um novo momento na minha consciência? 

Percebi que não são só os momentos que descrevo, mas a minha própria percepção de mim e do mundo mudou. Das coisas que fiz, de como olhava para elas, de como olhava...


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